quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Um breve relato de revolta


E pela milésima vez sofri hoje uma violência verbal, moral, preconceituosa e ignorante. Já recebi olhares tortos de gentinha, de conhecidos, de “amigos”. Hoje pela segunda vez fui abordada por um MÉDICO, da mesma forma em que nessa mesma semana fui questionada por um recém PAI. O tema é AMAMENTAÇÃO.
Acordei hoje com uma pressão na cabeça, que parecia que os olhos iam pular, o ouvido explodir, o pescoço desrosquear. Corremos para o Pronto Socorro. Como eu já tive meningite morri de medo. Estávamos meu marido, a Sarah e eu. A enfermeira que me atendeu na triagem me viu com a Sarah e me deu prioridade no atendimento.  
Passei com uma neurologista. Seu nome é Andréa Algumacoisa Lebre, do Hospital São Camilo em Santana. Colheu os dados de como me sentia e disse que eu ia tomar dois medicamentos na veia, e fazer uma tomografia. É aqui que a história começa.
Perguntei a ela se os medicamentos que eu ia tomar e o exame não tinha problema de ser realizado durante o período de amamentação.
Ela respondeu: “ Por que teria? Não está mais na barriga!”
Eu: “Mas tem uma série de coisas que não se pode fazer mesmo amamentando!”
Ela: “ Você ainda amamenta? Quanto tempo seu bebê tem?”
Eu: “ 1 ano e 1 mês.”
Ela: (pausa dramática) “E você amamenta? CREDO.
Eu: “Credo? Credo, por quê?”
Ela:” Não precisa mais! Cada um cada um, mas eu acho muito feio. Meu primeiro filho mamou só quinze dias e puff meu leite depois disso acabou e ele tomou Nan e o outro seis meses”
Eu: “É, cada um cada um.”
Ela: “Mas você ainda tem leite ou ela fica lá só por ficar?”
Eu: “Eu ainda tenho muito leite, ela mama, eu sinto o leite descer. E eu ouvi falar por aí que a OMS recomenda o aleitamento materno até os 2 anos ou mais”
Ela: “Ah, mas isso vale para os países com subnutrição, onde não se tem alimentos para todos.”

E aí lembrei da página que eu administro no facebook, onde eu respondo várias perguntas impertinentes e invasivas no mundo das mães com bom humor e/ou sarcasmo. E me vi na hora sem conseguir responder nada inteligente, nada pertinente, porque a única coisa que vinha na minha mente como resposta era: “Vai tomar no cú”. E um tapa na cara. Mas não consigo me rebaixar ao nível que ela e tantas outras pessoas – e o pior – tantos outros médicos chegam. Você vai me responder: “Ah, mas ela não é pediatra.” Sinto em lhe informar que a grande maioria dos próprios pediatras são assim também. Eu juro que não consigo ficar com raiva dela, pois o que define bem é a palavra dó. Dó dos profissionais da saúde que foram engolidos por um sistema frio e consumista, e dó da gente que muitas vezes entrega nossas vidas e a vida de nossos filhos nas mãos desses carniças. Dó de quem deixou de acreditar no coração e no próprio corpo para dar a palavra final a um médico, de quem  acha que médico é a encarnação de Deus, e que os milagres foram substituídos por máquinas e bisturis de última tecnologia.
Estou longe de ser uma xiita ou natureba de mão cheia, mas o que eu faço e luto é pelo amor que está perto de acabar no mundo. E sinceramente, mesmo lutando com fé, ela se esvai cada vez que piso em um hospital, cada vez que eu ouço um relato de um parto ou cesárea, cada vez que alguém deixa de ouvir alguém que quer ajudar para ouvir alguém que quer apenas ganhar o seu $alário.
Que me desculpem os médicos (inclusive os meus que me acompanham) que não fazem parte disso tudo, mas a sua classe me envergonha tanto quanto os políticos corruptos desse país.
E às pessoas que assistem a isso tudo, passivas, está na hora de se mexer, se questionar e usar o Google devidamente.

Em breve, assim que me recuperar, virei aqui para escrever sobre todas as violências que lembrar que já sofri por médicos, e eu duvido que ninguém tenha passado por pelo menos metade delas.

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